Palavras em português usadas em outros idiomas: Descubra curiosidades linguísticas!

Palavras Portuguesas Usadas em Outros Idiomas

Tal como todo idioma, parte da riqueza do nosso português deriva de sua ampla gama de empréstimos linguísticos. Assim como recebemos muita influência externa, os portugueses, ao longo do seu contato com outros povos, fizeram com que vários idiomas absorvessem parte do nosso vocabulário. Hoje, veremos palavras que falantes de outros idiomas nem imaginam que vieram, na verdade, do português.

1 – Hindustani (híndi e urdu)

(Vasco da Gama diante do samorim de Calecute, pintado em 1898.)

Assim como a Inglaterra, os portugueses tiveram colônias na Índia por quase meio milênio, apesar de não terem tido tanto controle quanto ela. A partir da chegada de Vasco da Gama na península, no final do século XV, o vocabulário de ambos os idiomas se misturava.

A palavra “espada” foi adotada pelos indianos como “ispat”, assim como “chave” é “tchabi”. Outros termos, por outro lado, como “balde”, que se tornava “baldi”, e “padre”, que se diz “padri”, mantêm-se quase intactos. Vocábulos de origens outras senão português, como “xampu” e “sabão”, também foram emprestadas pelo português. Apesar desta distinção, até mesmo “espada” e “chave” não são originários do latim, mas, sim, do grego, o que quer dizer que muitas das palavras que foram pegas são, elas mesmas, empréstimos linguísticos.

Do lado oposto, a palavra “burca”, por exemplo, apesar de ser árabe, veio ao português através de seu uso na Índia, cuja população, atualmente, é a que contém o maior número de muçulmanos no planeta. Outra conhecida, “pijama”, praticamente idêntico ao original “payjamah”, é um termo persa também usado pelos indianos com sentido de “vestes para as pernas”.

2 – Japonês

(A chegada de um navio português, retratado em meados do século XVII.)

O primeiro contato japonês com os portugueses foi em meados do século XVI, onde mantiveram controle da cidade de Nagasaki por 7 anos. A administração foi autorizada pelo lorde Omura Sumitada, conhecido como Dom Bartolomeu, após se converter ao cristianismo. A influência linguística, no entanto, se deu mais pelo contato comercial, uma vez que a autoridade portuguesa não durou nem mesmo uma década, além de ter sido restrita à cidade.

Por incrível que pareça, palavras como “pão”, “carta” e “capa” são cognatos nas duas línguas, sendo estas, em japonês, pronunciadas como “pan”, “karuta”, e “kappa” respectivamente. A palavra “chomiryio”, que significa “tempero”, não tem relação alguma com português, mas “tenpura”, que vem de “tempero”, é o nome dado a um prato japonês feito com frango e frutos do mar. Pela via oposta, não há muitos vocábulos japoneses usados no português que não sejam característicos, como “quimono” e “anime”.

3 – Indonésio e Malaio

(Ilustração portuguesa de 1617, com escrita “Jente do reino de pegu gintios chamão se pegus”, referindo-se ao povo “pegu” do atual Myanmar.)

A partir do século XVI, os portugueses estabeleceram comércio com os arquipélagos indonésios e malaios, sendo os primeiros europeus a o fazerem. Estabeleceram, também, missões jesuíticas, que duraram até o início do século XVII. Neste período de conflitos e comércio, uma grande gama de palavras foi adotada pelos nativos, como “mentega”, “keju” e “sepatu”, inteligíveis para nós até hoje.

Muitas palavras se mantiveram idênticas, como “roda” e “bola”, e outras mantiveram a pronúncia, como “bangku” (“banco”). Outras alterações, como o som de “z” que se tornou “j” em “meja” (“mesa”), faz-nos perceber o modo com que a fonologia do idioma se comporta. Esta grande quantidade de termos se dá ao fato de português, assim como o malaio, ter sido língua franca entre os comerciantes até o século XIX. Assim como o que ocorreu com o japonês, palavras cognatas se referem aos artigos comercializados entre as partes na época.

A palavra portuguesa “mandarim”, usada para se referir ao dialeto chinês padrão, tem origem do malaio. Este termo era usado pelos portugueses para se referirem especificamente à dinastia Ming, mas, com o passar dos séculos, acabou se tornando uma palavra comum em várias línguas.

Indonésio se desenvolveu como uma língua franca, sendo mistura de idiomas nativos e europeus. Antigamente, os autóctones, por serem muçulmanos, usavam uma escrita arábica adaptada, que foi amplamente substituída pela escrita latina baseada no holandês.

4 – Holandês

(Batalha dos Guararapes, conflito entre o Reino de Portugal e a República das Sete Províncias Unidas, atual Holanda, em meados do século XVII. Imagem retratada em 1876.)

Resultado de muitos contatos e conflitos ao longo de séculos, muitas palavras portuguesas vieram parar no vocábulo holandês de formas inusitadas. A palavra “varanda”, por exemplo, após ser usada como “baramda” pelos indianos, foi adotada pelos colonizadores ingleses como “veranda”. Os holandeses passariam a usá-la com a mesma grafia.

A palavra holandesa “bacove”, que significa “banana”, é indisputavelmente um empréstimo do português. Acontece que “pacova”, em português, é sinônimo de “banana”, sendo originário do tupi guarani, enquanto “banana” é de origem desconhecida, podendo ser do árabe ou até mesmo do wolof.

Um detalhe interessante é o fato de “maleier”, com significado de “malaio” (quem nasceu na Malásia) é vindo do português, uma vez que os lusitanos foram os primeiros europeus a chegarem no arquipélago malaio. Em outros casos, português foi o intermediário, como em “monsoon” (monção), que foi adotado pelos holandeses do francês, que pegou do português, que pegou do árabe “mawsim” (“marcação”).

Atualmente, a palavra “macaco” é usada como “makak” por belgas de modo derrogatório para se referir a pessoas nativas do Magrebe, enquanto “makaak” (com um “a” extra) se refere ao animal. Outro animal, “muil” (“mula”) é originário do latim, que é a mesma etimologia de “mulato”. O termo que, para eles, é “mulat”, tem o mesmo significado, mas se considera ofensivo, uma vez que, assim como no português, varia de “mula”, o que faz com que nativos usem “halfbloed” ao invés.


Escrito por: Luis Talamini, professor da Idioma Independente no Rio Grande do Sul

Para contato: luistalamini.ii@gmail.com

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