Jejum no Ramadã: Descubra como funciona e suas práticas religiosas

Descubra como funciona e suas práticas religiosas

Sendo religião abraâmica, o islã tem o jejum como uma prática sagrada indispensável na vida do crente. Hoje, veremos como este rito é seguido pelos muçulmanos e como se compara às outras religiões irmãs: o cristianismo e o judaísmo.

O que envolve o jejum mensal

O jejum, chamado de “siyam” ou “sawm”, se refere à abstenção de qualquer coisa que se ingira de líquido ou sólido, a partir do nascer do sol até o poente. O período em questão é de aproximadamente 12 horas, e envolve também se abster de práticas reprováveis, como o envolvimento com vícios, sejam quais forem.

Não somente no Ramadã, o nono mês do calendário lunar islâmico, o jejum pode ser efetuado. Neste período em específico, todos aqueles que possuem capacidade mental e física têm o siyam como obrigação. A obrigatoriedade se dá ao fato de o jejum ser um dos cinco pilares da fé, com oração, caridade, peregrinação a Meca e o testemunho de fé em Deus e Seu mensageiro, Muhammad, conhecido como “Maomé” no Brasil.

Assim como qualquer obrigação religiosa islâmica, a abstenção só pode ser feita por quem se vê são de mente e corpo, pois se abster, por si só, não tem valor algum. O jejum envolve ter a intenção de se esforçar em prol de algo intangível, puramente espiritual, e não se machucar ou prejudicar, uma vez que quebrar o jejum no tempo certo é também imposto, e o fazer o mais rápido possível é importante tanto quanto à pontualidade das cinco orações diárias.

As obrigações dos muçulmanos envolvem muito esforço e concentração, mas nunca se ferir ou sofrer. Esta abstenção mensal não serve para privar as pessoas de se nutrirem, mas para terem controle até um dado momento. Nos países islâmicos, o Ramadã é o mês em que os adeptos fazem suas férias e aproveitam jantares em família, assim como trocam conhecimento religioso e sabedoria.

Quais são as práticas do mês do jejum

Atrasar quebrar o sawm é tão proibido quanto não o fazer em primeiro lugar, assim como é inaceitável estender o jejum intermitente por mais de 30 dias em qualquer período do ano. Às grávidas e aos idosos, não se permite jejuar, uma vez que a prática possa trazer inconveniência ou prejuízo em suas vidas. 

Todas as outras obrigações religiosas seguem este limite, como as orações e a presença na mesquita. É dito no Alcorão, livro sagrado do islã: “Deus não impõe a alma alguma senão o que é de sua capacidade”. Este limite abarca as orações noturnas, chamadas de “tarawih” no mês do Ramadã, que não podem ser feitas à exaustão, uma vez que faz parte da boa prática do profeta descansar o suficiente e fazer tudo com equilíbrio.

O jejuador não deve se envolver em brigas e discussões infrutíferas; segundo a tradição profética, é louvável dizer “não, estou jejuando”, e se afastar da confusão. No período da abstenção, o crente procura aumentar suas adorações opcionais e melhorar a qualidade das obrigatórias, tanto em gratidão quanto em busca de remissão. 

A oração da aurora, chamada de “fajr”, marca o início do jejum, sendo a do poente, “maghrib”, final do período. No momento de comer, chamado de “iftar”, se estiver ao alcance do fiel, é melhor começar com uma tâmara. Se acaso não houver por perto, quebra-se o jejum com água pura, sendo a alimentação prioridade à oração em si.

Antes do fajr, existe um ritual opcional chamado de “suhur”, onde o jejuador faz uma refeição um pouco antes do nascer do Sol, deixando a provação do dia mais fácil. Esta janta é encorajada, mas não obrigatória, assim como o “tahajjud”, outro nome das orações noturnas.

Quando a pessoa, por motivo válido, não pode se abster neste período, ela deverá recuperar os dias de jejum perdidos. Uma vez que o jejum não pode ser feito, como quando há problema de saúde, o crente tem a obrigação de alimentar um necessitado para cada dia, isto é, 30 refeições para 30 pessoas carentes, independentemente de quem forem.

Ao término do período, um banquete é preparado na comunidade para unir as pessoas e compartilhar comida com quem não pôde, no mês, fazer o iftar com muito conforto. Este dia é chamado de “eidul fitr”, e é marcado por orações e súplicas característicos. Neste último momento, o jejum é proibido, mesmo para aqueles que ainda acabaram não fechando os 30 dias.

Semelhança com outras religiões

A prática do jejum, assim como várias outras no islamismo, não é algo novo, tampouco exclusivo. O profeta Muhammad disse: “Não creiais nem deixeis de crer no povo do livro (cristãos e judeus)”, uma vez que, para os muçulmanos, Jesus é o Messias, apesar de o texto bíblico não ser usado como a fonte destas crenças.

O profeta Davi, citado também no Alcorão, é também mencionado por Maomé, que diz “o melhor jejum foi o de Davi, onde jejuava dia sim, dia não”. Conforme a teologia islâmica, as práticas muçulmanas não se diferem das mantidas por outros profetas, pois a única diferença entre um cristão e um muçulmano é que o cristão não crê na última revelação, por isto seus ritos não se assemelham na maioria das vezes.

No judaísmo, diferente do cristianismo, no qual é opcional, o jejum é obrigatório em duas datas específicas de seu calendário. No islã, por outro lado, tem a obrigatoriedade de um mês inteiro, apesar de, em outras circunstâncias, ser menos restritivo que o judaísmo. De acordo com a tradição islâmica, os israelitas impuseram limites a si mesmos no passar dos milênios.

O mês do Ramadã também é conhecido como “o mês do Alcorão”: acredita-se que o Livro tenha sido descido ao Espírito Santo neste período lunar específico. As escrituras sagradas do islã especificam as circunstâncias desta revelação, e também a de outras, como a de Moisés, figura citada no Alcorão como “Muça”. Este intervalo de 30 ou 29 dias é marcado pela contemplação destes textos na língua original, enquanto é a prática profética.

No islã, o jejum é a única ação de cujo mérito, segundo a tradição, Deus é o único conhecedor. A abstenção do período, acompanhada das caridades, chamadas de “hasanat”, somam à vida e ao espírito do fiel de uma maneira incalculável. Para os muçulmanos, não é interessante o conforto do material se o imaterial se mantém inexplorado, fazendo com que o jejum, apesar de ser difícil, traga muito prazer para suas vidas.


Escrito por: Luis Talamini, professor da Idioma Independente no Rio Grande do Sul

Para contato: luistalamini.ii@gmail.com

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