Duvido você saber dessa: As 5 Línguas mais Difíceis do Planeta.

As 5 Línguas mais difíceis do planeta.

Dentre os amantes dos idiomas, há quem se aventure além das línguas convencionais, tais como inglês e espanhol, estudadas pela maioria. Hoje veremos os idiomas que mais oferecem desafio aos estudantes, levando em conta gramática, pronúncia e escrita.

5 – Tcheco: Tchéquia e Eslováquia

(Placa com direções típica das ruas de Praga.)

Sendo compreendida pelos falantes de eslovaco, e muito semelhante a polonês, o tcheco é uma das línguas eslavas com a gramática e pronúncia mais complexas. Apesar de utilizar o alfabeto latino e ter uma grafia bem regular, os adjetivos e substantivos têm declinações gramaticais mais complexas que latim clássico. Um exemplo, “hrad”, pode ser hradu, hrade, hradě e hradem no singular, ou hrady, hradů, hradům e hradech no plural, todos traduzidos como “castelo” e “castelos” respectivamente, mas estando em contextos diferentes.

Estas declinações são comuns nas línguas eslavas, como russo e ucraniano, mas tcheco tem uns dos padrões mais irregulares e imprevisíveis. Fora as irregularidades, temos que nos ater ao gênero da palavra, podendo ser masculino, feminino e neutro, cada um seguindo um dos 14 padrões possíveis. No total, temos 7 casos, comparando com os 6 em russo.

Verbos são relativamente simples: dividem-se em 4 grupos que funcionam semelhantemente aos 3 em português: ar, er e ir. Comparado com os nossos 12 tempos verbais, tcheco só tem passado, presente e futuro. O único diferencial é o fato de, no passado, concordarem com o gênero do sujeito, o que não traz muita dificuldade. Apesar disto, mesmo sendo relativamente simples, existem muitas formas compostas que correspondem com qualquer um dos três gêneros que o sujeito seja, totalizando dezenas de combinações possíveis.

Para os adjetivos, existem uma separação de masculino para objetos inanimados, somando às possíveis 10 formas de cada uma destas palavras. Distinguir estas declinações pode ser extremamente frustrante, pois “malá” pode ser “pequena” (feminino) ou “pequenos” (neutro), e “malé” pode ser “pequenos” como objeto direto da frase (masculino ou feminino), ou “pequeno” como sujeito (especificamente neutro). Além disto, existem alguns verbos como “odžbleptávat”, adjetivos como “stříbrný” e substantivos como “čtvrtek”.

4 – Min Nan: Sudeste da China

(Dicionário inglês-hokkien transliterado, para todos os dialetos min nan inteligíveis.)
 

É importante destacarmos que o termo “chinês” se refere às línguas da china, sendo as mais conhecidas delas o mandarim e o cantonês. Dentre os dialetos e idiomas, cuja diferença é ambígua, temos o “min nan”, considerado a variante chinesa mais complexa, mas não a menos inteligível entre falantes de outras variantes.

Diferente dos convencionais 4 tons do mandarim e 6 de cantonês, min nan distingue até 8 (dependendo da variante), além de usar o sistema ideográfico de caracteres chinês. Comparado com os outros idiomas sino-tibetanos da região, tem um dos maiores inventários de consoantes, mesmo as vogais sendo praticamente as mesmas que às dos outros.

Apesar desta complexidade, sua fonologia não é mais complicada que o próprio inglês, ao passo que somente pouco mais de 700 sílabas são possíveis, comparando com as 400 que existem no mandarim. Para entendermos melhor, “ap”, “pa”, “pra” e “pras” são 4 sílabas diferentes, contudo, em chinês, não há como juntarmos o som de duas consoantes, e somente em certos dialetos (como min nan) podemos ter consoantes mudas finais (como “pap”).

A gramática é algo praticamente inexiste. Não teremos conjugação verbal, distinção entre número e gênero, declinação gramatical e nenhum tipo de modificação em palavra alguma. Frases como “farei” se tornam “eu fazer depois”, o que faz com que o aprendizado de chinês se resuma à pura memorização de símbolos, palavras e tons. Por mais contraditório que pareça, chinês é o idioma mais simples que existe no mundo, sendo comparável com indonésio, que ainda tem uma gramática mais complicada.

Apesar de cada palavra ser um ideograma individual ou conjunto, estes mesmos são formados por radicais comuns. Um exemplo famoso é “floresta”, “森”, que é tão somente três árvores juntas (木). Cada desenho tem uma história por trás, apesar de não ter relação alguma com o modo com o qual pronunciamos a palavra. A maior dificuldade do estudante será associar o conjunto do desenho com a sílaba; e a pronúncia, com o tom. Em função disto, este idioma, junto com suas variações, não apresenta complexidade superior à das línguas seguintes.

3 – Abecásio: Norte da Geórgia

(Manuscrito de Dmitry Gulia, famoso poeta abecásio, escrito com o alfabeto cirílico.)

O abecásio é uma língua caucasiana rara, com cerca de 92 mil falantes nativos. O idioma é, atualmente, escrito no alfabeto cirílico, tal como russo, mas já usou o georgiano, latino e até árabe. Seu abecedário conta com 38 letras diferentes, mas, com outros símbolos, somam-se mais 38 fonemas em forma de dígrafos (como “lh” e “nh” em português). Em contrapartida, o idioma tem somente (e estranhamente) duas vogais: “a” e “i”, com pequenas mudanças de articulação dependendo de outros aspectos.

Juntamente a “taa”, uma língua africana com cliques, é um dos idiomas com mais fonemas no mundo, a despeito de sua deficiência de vogais. Sua complexidade, no entanto, vem de sua natureza aglutinativa extremamente abrangente. Idiomas como turco e húngaro têm a mesma característica, no entanto, abecásio eleva a especificidade dos afixos a outro nível, além de unir isto a sons guturais semelhantes aos do árabe.

Abecásio entra na rara categoria de línguas “ergativas”, o que quer dizer, em suma, que o verbo está atrelado ao objeto, e não ao sujeito. Um exemplo seria dizer “eu a menina viu” com o sentido de “eu vi a menina”, isto é, o verbo concorda com o objeto. A única língua ergativa amplamente conhecida é o hindustani (urdu e hindi, na Índia e Paquistão).

Também lidaremos com 10 tempos verbais, sem contar com os 5 afixos de aspecto (como habitual e progressivo). Conseguimos traduzir “ele deu isso para ela por mim” como “yisizliytayt”: uma única palavra, contando até com o gênero dos mencionados. Esta palavra possui 7 elementos, mas um único verbo pode ter até 17. Outro exemplo pode ser “vou fazer você falar com ele por ela”, que é “ulizyasnirtsajoyt”. Fora esta estrutura, temos que aprender a pronúncia das letras cirílicas, sendo elas “улызиасырцәажәоит” nesta “frase”.

Substantivos, por sua vez, também podem ser estruturas de até 7 elementos. Neste paradigma, temos palavras como “atchqak”, que significa “um dos cavalos”, formado com o prefixo de artigo definido (a-) e o sufixo de indefinido (-k) ao mesmo tempo. Na gramática, há distinção entre singular e plural, e feminino, masculino e não humano, dando origem a diversos pronomes e afixos alternativos.

Outro fator que dificulta muito seu aprendizado é a falta de fontes na internet, pois se trata de uma língua muito pouco difundida. Ao redor do mundo, não há mais de 190 mil falantes, então muito pouco material foi produzido para estrangeiros. O georgiano é usada pelos próprios abecásios como língua franca na região, pois são minoria no território nacional, estando em conflito com a Geórgia há 30 anos em busca de independência.

2 – Árabe: Oriente Médio e África Setentrional

(Desenvolvimento de uma tipografia árabe.)

Sendo a língua semítica mais falada no mundo, o alfabeto árabe carece de vogais curtas, fazendo com que sejam deduzidas por contexto. Além disto, muitas das 27 consoantes que existem são idênticas, diferenciando-se por pontos, assim como bê, dê, pê e quê, no alfabeto latino, se diferenciam pelo traço que têm ao lado (senão seriam todos “o”). As vogais curtas podem ser representadas por diacríticos, apesar de quase nunca serem escritos.

Para o bem dos canhotos e mal dos destros, árabe é escrito da direita para a esquerda. Além da mudança de direções, letras sempre devem se unir, com a exceção de algumas, e assumir formas específicas no processo. A maior dificuldade está na leitura da letra cursiva, porque existem diversas caligrafias que são totalmente ilegíveis sem o conhecimento prévio do estilo, com ligaduras específicas entre certas letras.

Aqui há declinações gramaticais tal como tcheco, e são, na verdade, muito mais simples. A dificuldade, portanto, está no fato de elas serem vogais curtas finais, então não são escritas, mas lidas dentro do contexto. Algumas combinações de letras, como “mlm”, podem significar várias palavras dependendo de como forem lidas (malam, muallam, mulim ou muallim). Se determinarmos que é “malam”, agora precisamos ver o caso gramatical para lermos a terminação (malamun, malamin, malama, malamu ou malami), tudo somente com as consoantes “mlm” e o contexto.

Apesar de verbos serem sempre regulares, os padrões seguidos são extremamente específicos, contando, inclusive, com formas subjuntivas, assim como o português. As conjugações abrangem formas passivas também, como o exemplo de “kataba” (escreveu), que se torna “kutiba” (foi escrito), mas é escrita do memo modo: “ktb”. Quando declinamos um verbo, temos que levar o gênero do sujeito em conta, como a diferença entre “taktubu” e “taktubina”, ambos “tu escreves”, mas sendo o segundo endereçado a uma mulher.

Por trás de toda a gramática densa, o idioma conta com um arsenal de consoantes extremamente incomum. Típico da família linguística semítica, o árabe é um dos únicos idiomas do mundo que têm tantos sons guturais, como o famigerado “ain”, transliterado como um “3”, pois é tão incomum que não encontra letra minimamente correspondente a ele no alfabeto latino (além de ser parecido com o símbolo original: “ع”).

O verbo “ser” não é usado no presente, e vírgulas quase nunca são escritas, o que dificulta muito a interpretação. Por outro lado, os árabes tiveram a necessidade de especificar outras ideias na linguagem. Temos, assim, um “ou” específico para alternativa (como quando não usamos vírgula antes de “ou” no português), um “não” e um “quando” específicos para passado, outro para o presente e outro para futuro, um “se” para situações irreais (se eu fizesse) e outro para reais (se eu fizer), e vários outros exemplos mirabolantes.

O árabe do dia a dia é ainda mais simples que o português brasileiro, mas todos os materiais escritos e gravados estão na linguagem clássico, a mesma falada há mais de 15 séculos. Por esta preservação, o árabe padrão, no mundo moderno, detém complexidade semelhante à de línguas mortas, como latim e grego antigo. Pela combinação da gramática, pronúncia e escrita, ela se encontra nesta posição, além de ser difícil de dominar até mesmo para os nativos.

1 – Tsez: Daguestão, Rússia

(Homem e mulher na república de Daguestão, no antigo Império Russo, por volta de 1910.)

A língua tsez, também conhecida como “dido” pelos georgianos, é semelhante à abecásia. Este idioma é falado por cerca de 13 mil pessoas no sudeste da Rússia e partes da Geórgia, e carece de uma tradição escrita. Apesar da carência, formas não padronizadas de latim e cirílico já foram empregadas.

Seu vocabulário é uma mistura de russo, árabe, avar, georgiano e línguas túrquicas. Dido tem sons guturais como árabe, além de outros fonemas raros. No total, possui som de 33 consoantes e 5 vogais, apesar de a maioria das palavras não ter mais que cinco sílabas.

Palavras podem declinar em 39 casos gramaticais distintos. Isto é comum em línguas aglutinativas, como finlandês, que chega a ter 15, no entanto, tsez é quase tão irregular quanto tcheco, ao invés de consistente como turco e húngaro (cujo número de casos somado é inferior ao de tsez). A maioria dos casos é locativo, por exemplo, “is” significa “touro”, enquanto “isqāzay” quer dizer “vindo de cima do touro (em uma longa distância)”.

Fora as dezenas de especificações e irregularidades, as palavras podem estar em um dos quatro gêneros: masculino humano, feminino ou objeto inanimado, animal ou objeto inanimado, e objeto inanimado exclusivamente. Em função desta variedade, a classificação de palavras em uma das categorias é praticamente imprevisível quando não falamos de humanos ou animais.

Os verbos, por outro lado, são todos regulares, com a única exceção de “ser”. Por mais previsível que seja, ainda teremos que distinguir se o fato foi testemunhado ou não, é resultado de um desejo, é contínuo, é perfeito, é efeito de outra ação ou vários destes ao mesmo tempo. Vale mencionar: verbos, assim como adjetivos, devem concordar com a classificação da palavra (as 4), contando com regras que dão preferência a um gênero em frases como “o menino e o livro caíram”.

Para somar à complexidade, conjugações negativas têm sufixos diferentes (não vale só pôr “não” no começo), e conceitos mais específicos ainda são formados com auxiliares que declinam em conjunto. Muitas destas combinações têm particípios, como “išani”, traduzido como “no estado de não ter comido”, com um sentido de ser resultado de outro fato. Com apenas 3 sílabas simples, criamos este “particípio negativo resultativo”.

Tsez é campeã em unir conceitos gramaticais exóticos como causativização, adjunto de relativização, cláusula de completamento etc. São tantas as minúcias que é difícil imaginarmos a possibilidade de atingir a mínima proficiência nesta língua, somando ao fato de que não há sequer um sistema oficial de escrita, muito menos um dicionário em língua alguma. A esta altura, o fato de tsez ser uma língua ergativa (verbo concorda com objeto) é o de menos.


Escrito por: Luis Talamini, professor da Idioma Independente no Rio Grande do Sul

Para contato: luistalamini.ii@gmail.com

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