COMO É O FINAL DE ANO NO ORIENTE MÉDIO?

No Ocidente, estamos acostumados às comemorações natalinas e de Réveillon, e, por o costume ser tão comum para nós, não percebemos que esta tradição é completamente inexistente na maior parte do Oriente Médio. Hoje vamos ver como o calendário islâmico é usado nestes países de maioria islâmica e as festas vigentes na região!

Como É Chamado o Calendário Islâmico?

(Calendário hegírico de 1433 h, ou 2012 d.C, com horários de orações diárias)

“Hegírico” é o nome dado ao calendário lunar usado pelos muçulmanos ao redor do mundo. Ele se trata de um cronograma baseado, como sua descrição sugere, nas fases da Lua ao invés das do Sol, começando a partir da “Hégira” (do árabe, “hijrah”, ou “imigração”), isto é, o evento em que o profeta do islã, Muhammad, realiza sua fuga de Meca a Yathrib (Medina). Este fato separa o antes e o depois na perspectiva dos povos islâmicos, embora muitos ainda usem datação solar (à qual estamos acostumados) por convenção.

Apesar de os muçulmanos crerem em Jesus como Cristo, o Natal não é comemorado, pois as únicas datas comemorativas levadas em conta são aquelas praticadas por Muhammad, registradas no calendário lunar. Na perspectiva árabe islâmica (e de todos os praticantes da religião ao redor do mundo), um festival, ou “eid” como é chamado, consiste em uma data marcada para a congregação dos fiéis. Isto caracteriza toda sexta-feira, que é equivalente ao sábado para os judeus e domingo para os cristãos, como uma data comemorativa islâmica.

Outro termo que descreve este tipo de evento é “feriado”, pois, nos países do Oriente Médio, domingo é o primeiro dia útil da semana, sendo o final de semana sexta e sábado. Fora estes, só há dois feriados anuais: o “eid alad’ha” (feriado dos sacrifícios), onde animais são sacrificados; e “eid alfitr” (feriado do desjejum), comemorado após o Ramadã, no qual os fiéis se reúnem em banquetes comunitários.

Qual a Divisão dos Meses Lunares?

(Astrônomo buscando pela Lua crescente, que indica início do mês de Ramadã)

Este calendário é menor e mais exato que o Solar (porque está apenas dois segundos defasado por ano). No total, ele contém 354 dias, uma vez que o período de rotação lunar dura 29 e meio, ou seja, os meses têm ou 29, ou 30. Entre o ano de 2022 e 2023, estamos em 1444 depois da Hégira, e, no dia de Natal de 2022, será primeiro de Jumada Alakhirah, início do sexto mês lunar.

A virada do ano deste calendário (que ocorre em 19/07/2023) não é mais marcante que a virada de um mês comum, sendo o auge deles o Ramadã, o nono. O final deste período representa o final de um jejum mensal e a purificação da alma através deste sacrifício e da caridade ofertada aos jejuadores que não têm com o que o quebrar. O início de Shawwal, o décimo mês, é onde um dos dois feriados anuais ocorre. Como Ramadã representa este marco importante, é também o período de férias anuais, onde se descansa enquanto se jejua.

De acordo com o islã tradicional, qualquer outra comemoração feita numa data anual, como aniversário ou outros feriados (que temos aos montes no Brasil) não têm benefício, pois não foram ensinados pelo profeta da religião. Outra justificativa é o fato de os valores praticados, como família, fé e paciência, serem relembrados semanalmente nos feriados da sexta-feira.

Quais os Princípios Celebrados nestes Eventos?

(Comemoração do feriado de desjejum, Tailândia)

Assim como o Natal e a Páscoa, os feriados dos sacrifícios e do desjejum são o momento em que as pessoas se esforçam para serem ainda mais caridosas e conscientes de suas ações. No processo, as famílias se reúnem e dividem alimentos vindos dos animais sacrificados, e ofertam o resto em doação para outras famílias ou indivíduos necessitados.

O mês do Ramadã é um período no qual, de acordo com a teologia islâmica, o Alcorão foi revelado pelo anjo Gabriel a Maomé em Meca. O evento é estipulado por teólogos muçulmanos como sendo, nos moldes solares, dia 10 de agosto de 610. Esta data seria equivalente à crucificação e ressurreição de Cristo para os ocidentais, pois é o princípio de todos os preceitos religiosos seguidos por quase 2 bilhões de pessoas no mundo todo.

Como Ambos os Calendários são Usados Hoje?

(Comunhão dos dois calendários, contendo dois sistemas numéricos, dois idiomas e três alfabeto diferentes, juntamente com datas islâmicas xiitas e indianas)

Nos tempos modernos, em função da globalização, as datas solares se tornaram mais difundidas entre os povos islâmicos. Neste caso, o hegírico é usado de modo litúrgico, para que o muçulmano possa se situar quanto às suas datas importantes. Elas não se resumem somente a comemorações congregacionais, mas, também, englobam eventos importantes, como o “Hajj”: a peregrinação a Meca em seu mês respectivo (Zul Hijjah, o último do ano).

Independente da globalização, este calendário perdura sendo um dos mais utilizados ao redor do mundo, tendo suas versões digitais atualizadas como o que usamos no Brasil. Alguns calendários, por outro lado, incorporam os dois formatos em si, apresentando as datas respectivas de cada sistema.

Outra particularidade, mais ligada aos árabes da Península Arábica, são os números de origem indiana. Nesta região, é comum usarem símbolos alternativos para os números, ou seja, árabes não usam algoritmos arábicos, mas indianos. De zero a nove, os caracteres são os seguintes: ۰۱۲۳٤٥٦۷۸۹. São semelhantes aos arábicos e ainda são escritos da esquerda para a direita (diferente do árabe, causando alguns conflitos). Números assim são também usados no Paquistão e no Irã, com a diferença de alguns dígitos.

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Escrito por: Luis Talamini, professor da Idioma Independente no Rio Grande do Sul

Para contato: luistalamini.ii@gmail.com

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