O termo “fluência” é uma das palavras mais usadas em propagandas de cursos de idiomas e também um dos objetivos mais genéricos citados pelos alunos. Quando perguntados “O que você gostaria de alcançar com o inglês?” é muito comum a resposta “- Ah, quero ser fluente.” Embora essa resposta vaga possa demonstrar uma ligeira falta de objetividade com as próprias metas, acho importante estabelecermos de uma vez por todas: o que é ser fluente?
Uma forma objetiva de se encarar a fluência é usando uma escala de proficiência em um idioma, e a mais usada é o Quadro Europeu Comum de Referência para Línguas (Common European Framework of Reference for Languages – CEFR)¹. Esse padrão divide as capacidades do estudante de idiomas em três níveis (A-básico, B-independente e C-proficiente), e cada nível em dois sub-níveis (A1-iniciante, A2-básico, B1-intermediário, B2-usuário independente, C1-proficiência operativa eficaz e C2-domínio pleno). Vamos dar uma olhada mais minuciosa?
Começando pelo nível mais básico:
A — Básico
A1-Iniciante
É capaz de compreender e usar expressões familiares e cotidianas, assim como enunciados muito simples, que visam satisfazer necessidades concretas. Pode apresentar-se e apresentar outros e é capaz de fazer perguntas e dar respostas sobre aspectos pessoais como, por exemplo, o local onde vive, as pessoas que conhece e as coisas que tem. Pode comunicar de modo simples, se o interlocutor falar lenta e distintamente e se mostrar cooperante.
A2-Básico
É capaz de compreender frases isoladas e expressões frequentes relacionadas com áreas de prioridade imediata (p. ex.: informações pessoais e familiares simples, compras, meio circundante). É capaz de comunicar em tarefas simples e em rotinas que exigem apenas uma troca de informação simples e direta sobre assuntos que lhe são familiares e habituais. Pode descrever de modo simples a sua formação, o meio circundante e, ainda, referir assuntos relacionados com necessidades imediatas.Sejamos francos, o nível A deveria ser facilmente alcançável por um aluno regular de inglês escolar, mas se com 100 minutos por semana (2 aulas) em 7 anos de curso (do 6.º ano do Ensino Fundamental ao 3.º ano do Ensino Médio), você ainda não for capaz de uma comunicação básica, shame on you! tudo bem, a Idioma Independente agradece! 😉
Vamos seguir analisando
B — Independente
B1-Intermediário
É capaz de compreender as questões principais, quando é usada uma linguagem clara e estandardizada e os assuntos lhe são familiares (temas abordados no trabalho, na escola e nos momentos de lazer, etc.). É capaz de lidar com a maioria das situações encontradas na região onde se fala a língua-alvo. É capaz de produzir um discurso simples e coerente sobre assuntos que lhe são familiares ou de interesse pessoal. Pode descrever experiências e eventos, sonhos, esperanças e ambições, bem como expor brevemente razões e justificações para uma opinião ou um projeto.
B2-Usuário Independente
É capaz de compreender as ideias principais em textos complexos sobre assuntos concretos e abstratos, incluindo discussões técnicas na sua área de especialidade. É capaz de comunicar com certo grau de espontaneidade com falantes nativos, sem que haja tensão de parte a parte. É capaz de exprimir-se de modo claro e pormenorizado sobre uma grande variedade de temas e explicar um ponto de vista sobre um tema da atualidade, expondo as vantagens e os inconvenientes de várias possibilidades.
Hum… parece que temos algo aqui!
O nível B é onde muito da língua começa a fazer sentido para o estudante e onde o uso em situações cotidianas passa a ser satisfatório para as necessidades mais gerais de comunicação; é também quando o aluno fica mais confiante nas suas habilidades.
Por fim, a “fluência!”:
C — Proficiente
C1-Proficiência operativa eficaz
É capaz de compreender um vasto número de textos longos e exigentes, reconhecendo os seus significados implícitos. É capaz de se exprimir de forma fluente e espontânea sem precisar procurar muito as palavras. É capaz de usar a língua de modo flexível e eficaz para fins sociais, acadêmicos e profissionais. Pode exprimir-se sobre temas complexos, de forma clara e bem estruturada, manifestando o domínio de mecanismos de organização, de articulação e de coesão do discurso.
C2-Domínio Pleno
É capaz de compreender, sem esforço, praticamente tudo o que ouve ou lê. É capaz de resumir as informações recolhidas em diversas fontes orais e escritas, reconstruindo argumentos e fatos de um modo coerente. É capaz de se exprimir espontaneamente, de modo fluente e com exatidão, sendo capaz de distinguir finas variações de significado em situações complexas.
O nível C é o único que faz menção à fluência como forma de classificar as capacidades comunicativas do estudante; mas olha, não sei você, segundo esse padrão eu conheço MUITAS pessoas que não alcançariam a fluência nem na língua portuguesa! (kkkkk).
Concluindo:
- Em condições ideais, qualquer pessoa com ensino médio completo deveria ter pelo menos o nível A de domínio da língua inglesa (segundo o CEFR).
- O nível B é um ótimo nível para uso da língua, justamente por ser um nível de independência, muitos usuários se sentem fluentes ainda enquanto estudantes intermediários, mas como visto, é beeeem diferente da proficiência, né?
- O nível C demanda não apenas muitas horas de prática na língua, mas também um amplo domínio de organização do discurso e de coesão de ideias.
Então só posso ser considerado fluente se for classificado como proficiente no idioma? Não necessariamente, pois uma das definições de fluência é “qualidade da pessoa que se expressa com clareza”², ou seja, dependendo das situações que você enfrentar nos usos da língua, e se você estiver confiante, no nível B2 já está fluente.
Quando perguntei a uma professora minha o que era fluência, ela definiu assim: “Se você entende tudo te falam, consegue se expressar e ser entendido; Parabéns! Você é fluente.” – às vezes a gente esquece que é sobre comunicação, não é mesmo?
REFERÊNCIAS:
¹. https://www.britishcouncil.org.br/quadro-comum-europeu-de-referencia-para-linguas-cefr
². https://www.dicio.com.br/fluencia/
Escrito por: Beto Crepaldi – professor de inglês na Idioma Independente em Votorantim-SP
Para contato: deniocrepaldi.ii@gmail.com